quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As lentes, a neblina e a pausa mental

"No final de todo banho eu desligo a água quente e deixo correr a água fria. 
Ficar sob essa ducha gelada por alguns minutos libera minha mente de tudo - das coisas boas e ruins. Isso me dá uma pausa mental, porque é o corpo que lida com o estado de desconforto, e zerar a mente me ajuda a lembrar que eu consigo passar por qualquer coisa"
Marcus Luttrell, ex SEAL da Marinha Norte-Americana.


Nesta madrugada fiz uma burrada aconteceu algo que me deixou com a sensação de "como fui capaz?":

Contexto: dormi na sala, assistindo TV. Normal. Fui dormir no quarto no meio da noite, naquele momento em que você se assemelha mais a um zumbi do The Walking Dead, se arrastando pela casa com medo de dar aquela topada no dedinho do pé. Continuo meu sono na cama. Em alguns instantes, acordo com os olhos lacrimejando: - "Pqp! Esqueci de tirar as lentes de contato". Sou quase um Mr. Magoo sem elas e, por vezes, consigo me esquecer de retirá-las antes de deitar. Ontem não foi diferente.

Fui até o banheiro, peguei o estojo das lentes, retirei o objeto incômodo dos meus olhos e guardei novamente o estojo em seu lugar. Em uma privação total de sentidos, por algum motivo que não sei dizer qual é (talvez seja por sonambulismo), recomecei o processo de retirada das lentes de contato, já as tendo retirado. Não sei como, mas não consegui raciocinar de modo a me lembrar que já havia resolvido o problema.

Com a ideia fixa na cabeça de que eu tinha que dormir, mas antes disso, tirar as lentes, continuei insistindo em tentar tirar algo que já não existia. Depois de uns bons minutos, o desespero começou a tomar conta, afinal, por que raios aquela lente havia grudado nos meus olhos? As iniciativas iam tornando-se cada vez mais desesperadas: colírio não resolvia. Soro fisiológico, tão pouco. Esfregar as pálpebras, cada vez com mais força, também não fazia a lente se movimentar, perfeitamente encaixada sobre a íris que estava.

As minhas técnicas de retirada iam tornando-se cada vez mais radicais. O movimento natural que aprendi a fazer para tirar as lentes  - puxar os olhos até virar japonês, piscar e pronto: a lente pula - já não funcionava. Quanto mais "japonês" eu ficava, mais a lente grudava. Nesse momento, os meus olhos já estavam pra lá de irritados e inchados. Tentei a técnica tradicional: puxá-la de dentro dos olhos com os dedos: mais um fracasso, e mais irritação.

- "Não é possível!" pensava eu, já ofegante, lá pelas 3h da madrugada. Numa tentativa desesperada de desgrudar as - inexistentes - lentes, peguei um cotonete e comecei a esfregá-lo em meus olhos, na esperança de sentir as lentes se mexendo. Mais uma vez, frustração. Eu já pensava no pior, em pegar o carro e correr para o pronto socorro por causa da bendita lente que não me deixava em paz. Cogitei estar participando dos Jogos Mortais (sim, O Inconsequente aqui é exagerado).

Em um momento, já cansado e conformado em me trocar e ir com os olhos inchados e machucados para o hospital, olho em cima da pia. Ainda não havia guardado o estojo. Para a minha surpresa, no estojo aberto, estavam, cada uma em seu lugar, as lentes. Nesse momento percebi de que tudo o que eu vinha fazendo - e sofrendo -  até aquela hora era em vão. Depois de pensar o quanto eu tinha me precipitado, peguei uma bolsa de gelo e um pano, e dormi com a compressa gelada sobre meus olhos até o despertador tocar.

Pensei nesse episódio hoje o dia todo, e lembrei-me da citação que abre este post. Às vezes não conseguimos nos dar um tempo para desligar de tudo aquilo que está a nossa volta e pensar somente no que de fato acontece, no concreto, no real. Estamos acostumados a nos manter em uma confortável neblina, onde somos os senhores dos acontecimentos. Muitas vezes essa mesma neblina, criada por nós, faz com que não enxerguemos o óbvio.

A pausa mental, principalmente diante dessa enxurrada de informações e velocidade em que nos encontramos hoje, é essencial. Ela pode nos dar ao menos uma noção de caminho, de calma, de bom senso. Por isso, caro Marcus Luttrell, vou me apropriar do seu hábito até encontrar a melhor forma de me dar uma pausa mental. Pode ser que eu durma de lentes novamente.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um comentário sobre Belo Monte e Reinaldo Azevedo

Depois de muitas coisas ditas e não ditas sobre a usina de Belo Monte, acabei lendo a opinião de um renomado jornalista, Reinaldo Azevedo, sobre toda essa história (clique aqui e leia o texto). Li com muita calma o seu post, e escrevo aqui (como fiz nos comentários), a minha opinião direcionada ao jornalista, em primeiro lugar, sobre o texto, e em segundo lugar, sobre Belo Monte.

Recomendo que leia primeiro o post dele, para depois chegar às minhas observações sobre. E depois, coloque seus pontos.


Compreendo seu ponto de vista, caro Reinaldo.

Contudo, sinto em seu texto muitas das críticas que você mesmo dirigiu à iniciativa.

Você me pareceu tão "dono da verdade" quanto aqueles que condena.

Uma das coisas que me incomoda é o seu pensamento exclusivamente matemático. Em sua essência, a lógica matemática não considera a relação humana. É uma análise fria (válida) da situação, concorda?

Deste pressuposto, a observação sobre proporção territorial, as considerações sobre remoção da população ribeirinha, capacidade de geração de energia e etc, não avalia aspectos que, em minha opinião (e de muitos impactados com a campanha) são fundamentais:

1. A vida
2. O precedente

Explico: ao "desmerecer" a quantidade do território destinado aos indígenas (não falo de desalojamento, já que defende a ideia de que nenhum indígena será afetado) você está dando de ombros para uma questão primordial: o respeito à vida. "Pobres indígenas, mal sabem as maravilhas do conforto da vida moderna", leio nas entrelinhas de seu - arrogante - texto. Já parou para pensar que os mesmos indígenas podem pensar "pobres homens brancos, não sabem respeitar o ambiente onde vivem...".

Compreender o outro lado da moeda, prezado Reinaldo, chama-se empatia. Está cada vez mais difícil de conseguir essa façanha hoje em dia. Pelo que pude perceber, você não conseguiu neste caso.

Segundo ponto: precedente. Muitas ações equivocadas são tomadas pelo fato de haver precedentes que, em teoria, justificam a recorrência de um erro, seja ele ambiental, social ou de qualquer outra natureza. Não é preciso ir muito longe para atestar isso.

É importante ponderar: você, ao utilizar técnicas que muitos dos colegiados em direito se utilizam, desmerece os interlocutores que trouxeram a mensagem em questão à tona. Se não era do seu interesse saber quem eram as pessoas, seria muito melhor omitir esse fato ao invés de reforçá-lo, como forma de diminuir a importância daqueles que tentam chamar a atenção para a causa.

"Ah, mas mesmo com tudo isso, o Brasil precisa de energia para crescer economicamente, proporcionar melhores condições de vida aos pobres e etc...". Concordo. É importante sedimentar condições para que o país e sua economia prosperem, gerando mais facilidades para sua população. A pergunta que me permito fazer é: a que custo?

Talvez Belo Monte de fato não represente todo esse monstro que pintaram. Você baliza essa opinião muito competentemente com fatos e dados. Mas Belo Monte talvez represente o primeiro passo em direção à permissividade da prosperidade a qualquer custo.

Em minha opinião, se é que ela lhe interessa, ainda não sei. Não formei nenhum juízo sobre a questão. Posso dizer que fiquei sensibilizado com a causa das nobres personalidades que você diz não conhecer. Mas isso não tapa meus olhos e ouvidos para novas opiniões, como a sua.

O fato de eu concordar com você ou não, não me dá direito, em nenhuma instância, de ridicularizar sua postura. Contudo, se o objetivo era criar polêmica, você de fato, deve estar orgulhoso de si. Já se o objetivo do texto foi refutar os princípios do movimento, acredito que tenha lhe faltado tato.

Mais uma vez: respeito sua opinião, a ponto de me dar ao trabalho de te dizer que li cada palavra escrita. Mas não me dou ao direito de lhe ridicularizar por sua postura. Peço também que veja nos comentários de seu post (que são muitos), várias informações de pessoas que me parecem ter conhecimento de causa quando falamos sobre matrizes energéticas, meios de produção e consequências ambientais.

Espero que a discussão sobre Belo Monte continue fervorosa, pois é do interesse de todos nós. Que essas discussões não se atenham ao ridículo, mas à praticidade, viabilidade, interesses genuínos e posições responsáveis que se comprometam sim, com o crescimento do Brasil e com o conforto da população, mas que não desprezem o exemplo, a vida e o planeta.

Um abraço.


Atualização às 16h04 (25/11): o comentário acima, deixado por mim em seu blog, foi recusado pela moderação.



quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Médicos: os Deuses dos tempos modernos


Tenho tido algumas experiências com médicos que me fizeram pensar em algo que muita gente já diz por aí. Os médicos são os Deuses dos tempos modernos.

É terminantemente proibido questioná-los, pois do alto de sua sabedoria e sapiência infinita, não conseguem, em sua maioria, tratar com o mínimo de respeito aqueles que não são especialistas em medicina.

"Bom dia", "boa tarde", ou uma explicação decente sobre um tratamento, procedimento ou algo do tipo é um luxo de quem pode pagar pela sua consulta particular. Ou nem deles.

Ok, a generalização aqui tem um único intuito: gerar polêmica e contribuir para uma reflexão mais apurada sobre a atitude profissional de cada médico. O Inconsequente aqui, além de se consultar em vários deste tipo, já trabalhou em empresas de saúde com renomados doutores (e outros nem tanto assim).

Que os Deuses dos tempos modernos não venham alegar que a quantidade de pacientes é grande, que as condições de trabalho não são as ideais e etc. Isso, meus caros, chama-se realidade. Cada pessoa no nosso país tem suas próprias reclamações sobre as condições de seu trabalho, sobre seus salários e o que for. Não é um fardo somente de sua classe. Aceite. Reivindique. E trabalhe, como tantos outros.

Atitudes como educação, respeito, paciência deveriam ser pré-requisitos para o ingresso dessas pessoas no curso de medicina. Cuidado: não confunda uma reivindicação por mais zelo com criação de vínculos afetivos. Ninguém aqui está pedindo para que cada médico torne-se um amigo de infância de seus pacientes.

Já cansei de ouvir "causos" de populares que, por falta de informação (que deveria ser provida pelo seu médico) erraram a mão no tratamento, sofreram mais que o necessário e passaram por outras milhares de sortes de encrencas. Isso sem falar no desaforo que muitos sofrem somente ao esperar um atendimento (isso, quando o atendimento acontece). Não vou falar sobre o problema crônico da saúde pública por que este tema merece um post só dele.

Aqueles médicos que sabem tratar seus pacientes como pessoas e não como cobaias, acabam por destacar-se entre outros milhares de profissionais. Curioso, não é?

House é um ótimo estereótipo do que digo aqui. O cara é brilhante, mas não sabe ser gentil com uma formiga. Será o autor/criador da série foi tão inventivo a ponto de criar algo fantasioso ou será que, ao idealizar o seu protagonista, ele levou em consideração o sentimento comum para que sua série fosse um sucesso?

Não à toa, a palavra de ordem dos empresários da saúde é "Humanização". Até eles já perceberam. Agora, meus caros, é hora de colocar em prática.

Às exceções, perdão. Sei que vocês não irão se importar.

Por fim, uma sacada esperta do Inconsequente (pesquisei no Google, antes que venham dizer que copiei):
"A unanimidade é burra. E essa é uma opinião unânime."

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pausa para leitura: O que Copa e Olimpíadas fazem pelas cidades?

“Bilhões de dólares foram gastos em estádios e outras obras, mas nós permanecemos em barracos sem energia. Eles pediram para a gente “sentir a Copa” [expressão usada no slogan oficial do evento], mas nós não sentimos nada além da dor da pobreza piorada pela dor da repressão. O dinheiro que deveria ser gasto urbanizando as comunidades mais pobres foi desperdiçado. A Copa do Mundo vai terminar no domingo e nós ainda seremos pobres.”


Essa foi a fala de um jovem de Johannesburgo durante a Copa do Mundo de 2010. Reflete o sentimento de muitos sul-africanos em relação ao evento.


Eu estive na África do Sul alguns meses antes do início da Copa. Encontrei um país em obras e muita gente reclamando. Mas, quando os jogos começam, os problemas costumam ser esquecidos. Passada a euforia do momento, começam as discussões sobre os impactos do evento, o uso dos recursos, quem se beneficiou realmente… e por aí vai.


Essa discussão não termina, porque acaba emendando nas discussões daqueles que já estão preocupados com o futuro das suas cidades que serão sede das próximas Copas e Olimpíadas. Já existem muitas informações disponíveis e que merecem atenção.


Em 2010, as Nações Unidas lançaram um relatório sobre o impacto das Olimpíadas nas cidades-sede. Os números são chocantes. Seul (1988): 15% da população foi desalojada, 48 mil edifícios foram destruídos. Pequim (2008): Um milhão e meio de pessoas foram removidas. Atlanta (1996): 15 mil pessoas removidas. E essas remoções e despejos, na maior parte das vezes, foram feitos de forma violenta e desrespeitando direitos básicos da população.


Além do impacto direto das obras e de como elas são feitas, também há o ponto importante de quem realmente se beneficia com a realização destes eventos. Na África do Sul, por exemplo, muitos homens e mulheres artesãos, comerciantes, vendedores, trabalhadores, etc, acreditaram que poderiam se beneficiar e aumentar um pouco sua renda durante os jogos. Mas não foi assim. Os pequenos comerciantes e artesãos não tiveram acesso aos estádios e arredores. Um perímetro de exclusividade foi criado ao redor dos estádios. Ali, apenas as grandes redes e marcas poderiam comercializar seus produtos. Resultado: quem lucrou foram as grandes empresas, não os sul africanos.


E falando em estádio… hoje, apenas um ano depois da Copa, já se discute na África do Sul a demolição de alguns dos estádios construídos. O custo da manutenção é alto demais, não justifica manter o “elefante branco” em pé.


E o que falar dos gastos? A Copa da África do Sul acabou custando 17 vezes mais do que o previsto inicialmente. Cidades que foram sede de mega eventos se endividaram além de suas capacidades e passaram muitos anos pagando a conta. È o caso de Atenas (2004) e Montreal (1976) que sediaram os Jogos Olímpicos.


Quanto mais investigamos, mais vemos cenários desanimadores. Mas, como disse o cientista político Antonio Gramsci, não devemos ficar apenas no pessimismo da razão. Devemos ter o otimismo da vontade.


O otimismo da minha vontade diz que é possível trilhar outros caminhos em que a realização de megaeventos esportivos promova inclusão social, gere renda e diminua desigualdades. Mas o caminho que leva a esse legado é o caminho da participação popular, da transparência, do controle social sobre as políticas e uso de recursos públicos.


O Brasil e o Rio de Janeiro podem aprender muito com outras experiências e escolher um caminho melhor para a realização da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016.


Por Renata Neder, da ONG Action Aid, extraído do site da Época.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ah, essa leseira...

Se tem uma coisa que sei fazer muito bem, e sem nenhuma modéstia, conheço poucas pessoas melhores do que eu, é não fazer nada.

Sinto um tremendo prazer em ficar lagarteando horas a fio sem mover uma palha. Nesse momento, sinto que poderia ficar anos sem fazer nada, caso reconhecessem o meu talento em não ter talento algum e brotasse uma grana dessa não-atividade.

Essa certeza sempre vem à tona lá pelas três da tarde: o corpo está preocupado em concentrar as energias para digerir toda a maçaroca do almoço e aquela moleza vem te abraçando e te ninando como se fosse a mais irresistível das mulheres.

Outra situação que eu sempre causa saudades: que saudade do cochilo no sofá. Não há momento melhor para "puxar uma paia" do que o fim do vídeo show e o começo da "A Lagoa Azul".

É uma sensação que deveria ter sido valorizada quando tinha a oportunidade de me afundar no sono pós-almoço e não o fazia. Eu sei, você também está se lamentando por isso.

Por isso, não troco minha cama, ou meu sofá por um colchão ou festa qualquer. Neste momento, invejo os espanhóis e sua famosa siesta.

Hoje ninguém afeta o meu plano de dormir decentemente todas as noites durante a semana, e  indecentemente aos finais de semana.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Realidade paralela...

Há uns tempos, eu era capaz de apostar minha bola direita que essa história de matrix, de realidade virtual, de redes sociais e tudo mais era uma aposta muito louca dos nerds, e que, depois de um certo tempo, tudo acabaria desaparecendo, como aconteceu com o falecido ICQ.

Bobagem minha.

Lendo alguns posts da Marina, no Corra Mary, percebi que cada vez mais os comportamentos das pessoas nas redes sociais vêm imitando o nosso comportamento real. Inconsequente e criativo que sou, já consigo imaginar o dia em que o comportamento virtual será considerado o "oficial" e o comportamento do dia a dia, cara a cara, será considerado secundário.

Será que esse dia está muito distante? Sou capaz de apostar que não.

Veja, assistindo a uma palestra há alguns meses, tomei conhecimento de uma pesquisa realizada na Alemanha com pré-adolescentes de 13, 14 anos (se alguém tiver mais infos sobre a pesquisa, é só mandar).

A proposta era a seguinte: um menino e uma menina foram colocados frente a frente para se conhecer em uma conversa. Após um tempo de exposição, nenhum dos dois havia trocado meia dúzia de palavras. A conversa não se desenvolveu. O menino com vergonha de fazer uma abordagem, e a menina sem jeito de iniciar uma conversa, ou esboçar uma reação mais amigável.

Depois disso, utilizaram os mesmos personagens para outra conversa (sem que eles soubessem que o outro tratava-se da mesma pessoa), só que desta vez via SMS. Resultado: a conversa foi ótima, ambos se entenderam maravilhosamente bem e não houve nenhum tipo de intimidação.

Sentiram-se mais confortáveis e propensos a um tipo de interação com a "proteção" da tecnologia, ao invés da exposição física, do olho no olho, frente a frente.

Enfim, é para se pensar... Quem sabe, lá na frente, uma das habilidades mais valorizadas não será a de se relacionar bem com outras pessoas... pasmem, no mesmo ambiente que você?

ps: ainda sei de cor o meu número do ICQ: 178975509. "ó-ou".

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Olhando para cima...

É interessante observar, principalmente em uma cidade grande como São Paulo, as movimentações que se desenrolam nos inifinitos andares dos prédios em qualquer horário do dia ou da noite.

Esse é o tipo de coisa que faz perceber que a vida dos outros não depende nem um tantinho de nós para continuar. Elas simplesmente permanecem na mais perfeita continuidade e harmonia, independente da nossa boa vontade ou da nossa colaboração.

Sempre que ando pela av. Paulista, procuro olhar as janelas dos hotéis, dos prédios comerciais, dos residenciais... Claro, o alcance de uma visão de um Inconsequente míope não é lá grande coisa, mas as lentes de contato já colaboram um pouco.

Quando faço isso, tenho a percepção de o quanto somos pequenos em relação a tudo o que nos cerca. O senhor correndo na esteira da academia do primeiro andar do Ceasar Businness, a empregada estendendo a roupa na sacada do terceiro andar do prédio da esquina, a reunião de trabalho que reflete na janela fechada.

Nenhuma dessas pessoas fazem ideia de que eu, por alguns segundos, admirei suas atividades tão corriqueiras, tão simples.

E, por incrível que pareça, achei isso tudo muito bonito! É como se fosse uma prova de que, por mais que a humanidade faça um esforço enorme pra que tudo se acabe em efeito estufa, poluição, armas nucleares e etc, o que temos que fazer para manter o mundo girando é, nada mais, nada menos, seguir ordinariamente as nossas vidas!

Ou seja, é a deixa pra colocar as futilidades de lado, tentar se livrar da síndrome do umbigo, dar menos importância pra acontecimentos irrelevantes e viver um pouco mais do agora.

Generosidade?

Sempre que escutava a palavra generosidade, automaticamente se montava na minha cabeça uma imagem de um velhinho colocando uma moeda no chapéu do mendigo.

Claro, esse pensamento capitalista deve ter sido plantado de uma forma quase espontânea ao longo da minha infância. E da sua também. É comum relacionarmos a generosidade ao dinheiro. Minto?

Mas, generosidade, uma palavra tão forte e bonita é muito mais que isso.

Quando um ator é generoso, ele deixa que o seu parceiro de cena brilhe. Essa é a melhor analogia de generosidade que posso encontrar. Não devemos confundi-la com piedade, ou pior, com dó.

Mais: não se deve ser generoso somente quando alguém precisa ou merece. Devemos ser generosos em todo momento, indiscriminadamente. Sou capaz de apostar que foi de acordo a máxima "faça aos outros o que você gostaria que fizessem a você" que a generosidade entrou com tudo no vocabulário popular.

É importante entender que a generosidade é um conceito que pode abranger desde o maior gesto de entrega de uma pessoa para outra até um simples reconhecimento de piscar de olhos.

E, por mais que haja o interesse de receber de volta aquilo que estamos proporcionando ou fazendo a outra pessoa, é legítimo ser generoso em busca de generosidade. Pense nisso.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pausa para leitura: resenha de "O Presidente", por André Kfouri.

Aos interessados, aos que deveriam ter se interessado, aos pobres desinteressados e a quem mais por aí que já tenha visto ao menos um jogo da seleção brasileira de futebol.

Reproduzo abaixo na íntegra a resenha feita pelo André Kfouri, já apresentado neste post, sobre a entrevista de Ricardo Teixeira, presidente de Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, para a repórter Daniela Pinheiro, da revista Piauí.

Este é o último apelo para que os leitores alienados de plantão façam coro aos demais no pedido de punição àquele que se acha o dono do futebol brasileiro (e de outras coisas mais).

Se, depois dessa matéria nada mais for feito, eu desisto.
Redobre a atenção, respire fundo e inicie a leitura:

Você certamente ouviu falar sobre o perfil de Ricardo Teixeira, assinado por Daniela Pinheiro, na revista Piauí.

As aspas do dirigente, recheadas de palavras de alto conteúdo grosseiro, já foram amplamente divulgadas.

Na resenha abaixo, escolhemos os “melhores momentos” do texto, muito mais reveladores do que os palavrões presidenciais. Também fizemos alguns comentários.


Procure uma banca, compre a revista. É leitura obrigatória.
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“A varanda do Hotel Baur au Lac foi construída em 1844, de maneira a oferecer aos hóspedes uma paisagem inspiradora: o jardim aparado com esmero em primeiro plano, depois o lago sereno e, ao fundo, os Alpes soberbos. Milionários bronzeados que pilotam Jaguar são habitués do hotel, no centro de Zurique. Eles costumam ser acompanhados por senhoras que portam dois relógios de brilhante no mesmo braço (um que marca a hora local e outro com o fuso do país de onde vêm). Ou então por loiras magras que bebem Campari com gestos lentos. Em maio, o hotel estava cheio de dirigentes da Fédération Internationale de Football Association, a Fifa, que realizava seu sexagésimo-primeiro congresso na capital da Suíça.”

COMENTÁRIO DO BLOG: Parágrafo de abertura. O esmero nas descrições permeia toda a reportagem. Quando você lê algo e se pega “vendo” a cena, é porque o material é bom. No caso, é muito bom.
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“Ele tem as feições pouco marcadas, rechonchudas. Como anda um pouco curvado, devagar e tem pigarros recorrentes, aparenta mais idade. Parece estar sempre irritado porque, mesmo relaxado ou de bom humor, mantém o cenho contraído, como se o sol do meio-dia ou uma forte dor de cabeça lhe atingisse em cheio a fronte. Quando se desarma, ou toma uma taça a mais no fim de noite, é espirituoso e atencioso com todos. Ele se veste de maneira formal, padrão: calça marrom, camisa branca, blazer azul com botões dourados e gravata vermelha. Antes de se casar – sua mulher contou – usava sapato preto com meia soquete branca.”

Sapato preto com meia branca não dá. Pelo jeito, o layout do presidente melhorou. Eu jamais usaria um blazer com botões dourados, mas aí é questão de gosto, né?
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“Os convivas eram cartolas de confederações sul-americanas, suas esposas e assessores. Parecia um jantar do elenco do seriado Chapolin, com muita tinha acaju, pulseiras de prata, calças de tergal e sobrancelhas feitas com um risco em forma de meia-lua. Estava lá o octogenário Julio Grondona, jefe da Associação de Futebol Argentino. Ele é acusado de ter ganho 78 milhões de dólares para votar no Catar para sede da Copa de 2022.

Também apareceu Nicolás Leoz, um paraguaio de 82 anos que preside a Confederação Sul-Americana de Futebol, a Conmebol. Além de ter recebido suborno da ISL, diz-se que ele teria pedido um título de nobreza a David Triesman, em troca de seu voto pela Inglaterra. ‘Don Leoz, donde está su corona?’, gritou-lhe Teixeira, trazendo à baila o almejado título de sir. Leoz fez um bico de muxoxo e levantou os braços sobre a cabeça, fingindo estar sendo coroado, e todos gargalharam. ‘Se nos derem as Malvinas, eu voto em qualquer coisa!’, gritou Grondona, que usa um anel de ouro no mindinho com a expressão Todo pasa.”

1 – A segunda frase é impagável.
2 – Veja, uma vez mais, em que mãos está o futebol sul-americano.
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“(…) Em Zurique, o presidente conversou por duas vezes com advogados sobre a possibilidade de negar credenciais para jogos da Seleção Brasileira. Foi orientado a conceder pelo menos uma aos desafetos, de maneira a não se caracterizar a discriminação.”

Poderíamos usar aqui a expressão “apropriação indébita”? De quem, afinal, é a Seleção Brasileira de futebol?
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“No futuro, Teixeira considera montar uma estrutura jornalística própria, que produzirá conteúdo de interesse da CBF. Seja para responder aos ataques dos críticos, seja para comercializar o acesso privilegiado que a entidade tem sobre os jogadores.”

Os jornalistas contratados para essa futura estrutura certamente não serão “vagabundos” e “escrotos”, termos usados pelo presidente para caracterizar a imprensa esportiva brasileira.
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“No salão de chá do Baur au Lac, o argentino Julio Grondona estava esparramado numa poltrona, com o rosto afogueado. ‘Ah, fui ver os vitrais do Chagall, comi um risoto maravilhoso, bebi uma garrafa de Chianti e brindei à eleição da Fifa’, disse, caindo na gargalhada.

Teixeira pareceu surpreso ao saber que um dos principais pontos turísticos de Zurique, os vitrais de Marc Chagall, ficava a menos de 500 metros do hotel. Ainda que frequente a cidade há mais de trinta anos, seus trajetos são inalteráveis: hotel, Fifa, os mesmos restaurantes, onde é atendido pelos mesmos garçons – a quem pede os mesmos pratos. As paisagens deixaram de deslumbrá-lo.”

Uma pena…
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“Durante a CPI da Nike, em 2001, a rede levou ao ar uma reportagem no Globo Repórter sustentando que a renda de Ricardo Teixeira era incompatível com  seu patrimônio e padrão de vida. A CBF anunciou pouco depois, do nada, uma mudança no horário de uma transmissão de uma partida Brasil x Argentina, clássico sul-americano que costuma bater recordes de audiência. Em vez de ser exibido no horário de praxe, depois da novela das oito, o jogo foi marcado para as 19h45.

‘Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?’, cochicou-me Teixeira, no Baur au Lac, quando o caso foi relembrado. Como a Globo transmitiu a partida, amargou o prejuízo de deixar de mostrar diversos anúncios no horário nobre, o mais caro da programação. A partir daí, não houve mais reportagens desagradáveis sobre o presidente da CBF na Globo.”

O “dono” da Seleção Brasileira ataca novamente. Ah, o poder…
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“Teixeira quis almoçar de novo no Zeughauskeller. No caminho, o celular de Rodrigo Paiva tocou e, do Rio, alguém lhe contou que o prefeito Eduardo Paes havia divulgado que a sede do centro de imprensa da Copa seria na cidade. O anúncio, no entanto, deveria ter sido feito pelo Comitê Organizador, ou seja, por Ricardo Teixeira. O que se falou no carro é impublicável.”

Eu queria ser uma mosca.
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“A empresa Match alugara uma sala no hotel para que caciques da Fifa assistissem ao jogo do Manchester contra o Barcelona. Teixeira ajeitou-se numa cadeira na primeira fileira, em frente à televisão. Havia salgadinhos e bebida, mas ele tomou suco. Um cartola uruguaio lhe perguntou detalhes dos times brasileiros e ele repondeu de forma lacônica: ‘Santos es muy fuerte. El problema es que sólo tiene dos jugadores’, ‘Problema de Palmeiras es que gastó mucho y no ganó nada”.

Ao contrário dos outros, que vibravam, comentavam, gritavam e xingavam, Teixeira parecia ver um filme repetido da sessão da tarde. Fez comentários sobre os passes errados do Barça, e apertava os lábios quando o time perdia uma boa jogada. No meio do jogo, pegou seu iPad. Quando Messi marcou um gol, mal levantou os olhos por cima dos óculos para conferir o tira-teima.

Ao final, comentou que detestava ver jogo rodeado de ‘muita gente’ (…).”

Poderia ter subido ao quarto, não? Ou será que a final da UCL não tem tanto apelo ao presidente da CBF?
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“Antes de começar a votação da Fifa, Jérôme Valcke avisou aos 203 delegados presentes que deveria testar a maquininha de voto. Ele faria duas perguntas pró-forma, e os representantes dos países deveriam apertar verde para sim, amarelo para abstenção e vermelho para não. As instruções foram traduzidas em sete idiomas. ‘Esse Congresso está ocorrendo na Hungria?’, foi a primeira questão. Para espanto geral, 45 delegados responderam que sim. ‘Foi a Espanha que ganhou a última Copa do Mundo?’ No painel, viu-se que sete responderam negativamente.”

Sem comentários.
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“Como de hábito, responsabilizou a imprensa pela celeuma (Nota do blog: sobre o estádio paulistano para a Copa de 2014): ‘Olha a merda que foi a Copa na França; a Seleção jogou num estádio de 27 mil lugares, ficamos concentrados no meio do nada. E algum jornalista reclamou? Não, né? Afinal, estavam indo para Paris.’ Quando se falou em aeroportos, ele deixou claro que o problema não lhe diz respeito. ‘Isso é governo. E se o governo acha que a Copa não é prioridade, não posso fazer nada. Esse é o SEU país’, disse.”

Como é?

SEU?!


Clique aqui para ver o post em seu blog original.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Silêncio definitivo.

Estamos acostumados ao barulho. Principalmente quem vive nas grandes cidades. Há uma familiarização geral de todos nós com os sons, as palavras e orações que estão presentes em nosso caminho todo santo dia.

As buzinas e os motores dos carros que nos acompanham em nosso trajeto, as conversas paralelas das pessoas no trabalho, na faculdade, na fila do banco ou onde você estiver. Os sons de cada fonema de uma longa - ou curta - conversa também formam um pouco desse barulho que aturamos escutamos todos os dias.

O barulho já está tão incorporado em nossos comportamentos que pouco ou nada reparamos no silêncio.

O silêncio que é, em cada forma de expressão, definitivo. Completo. Veja, o silêncio é tão simples que se explica na ausência do barulho, na falta de som. Não precisa de palavras ou gestos para se fazer compreender.

Em cada situação, o silêncio sempre termina com a razão. "Quem cala consente", diz a sabedoria popular.

Estou calado quanto a isso.

Fabrício Carpinejar já fez algumas definições bacanas sobre o silêncio. Veja aqui, aqui e aqui.

O Silêncio traz a suprema aprovação ou a indesejada reprovação. Indica o ridículo e aplaude o extraordinário. Define o engraçado e censura o nefasto. Em alguns casos, o silêncio é uma prece.

Por isso, espero poder compreender cada silêncio que aparecer em meu caminho. Quem sabe, desta forma, isso me dê pistas para notar melhor os barulhos à minha volta.

Por fim, por favor, entenda. Prefiro fazer um pouco de silêncio.

Pausa para leitura.

Eu sei, demorei um pouco para indicar outro blog com mais propriedade. Entenda, por favor. Para todos os efeitos, é tudo culpa da minha maldita preguiça do meu trabalho.

O indicado de hoje acaba de entrar na lista de leitura do Inconsequente aqui. É o Corra Mary, um blog que muita gente já deve conhecer (ou não).

Alimentado com ótima frequência pela bela Marina e pelo afiado Pedro, o blog trata de diversos assuntos como devaneios estudantis, percepções que você já teve e achou que ninguém pensaria como você, contos, crônicas e milhares de outros posts surpreendentes e mega interessantes.

O melhor de tudo é que todos são extremamente bem escritos, leves e cheios de ritmo, tornando deliciosa a experiência de navegar pelos infinitos posts.

É importante destacar que os traços de cada um dos blogueiros se complementam. Isso quer dizer que você não vai cansar de ler cada um dos textos, pois se intercalam e variam de assunto e profundidade constantemente.

É isso. Vale o Ctrl+D.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Momento de transição.

Estamos sempre vivendo em uma transição. A vida é uma transição.

Perceba como desde a sua infância, nunca houve um momento em que você estivesse em um estável apogeu com um mundo de possibilidades à sua disposição.

Mesmo quando temos a impressão de estabilidade, estamos em transição para outra condição de vida, de estado de espírito ou seja lá o que for.

Um trabalho é a transição para uma vida melhor. A condição atual é sempre um degrau que devemos subir, um obstáculo que devemos superar. Um plano que está sendo executado, uma busca inacabada, uma aspiração não conquistada.

Contudo, me questiono se essa evolução não deve ter um fim, ou, pelo menos, respiros. Veja, se pensarmos naquele tão aclamado "inconformismo positivo", quando, de fato, alcançaremos o nosso objetivo, ou chegaremos a algum lugar?

Não estou falando aqui de acomodação, nem tampouco de conformismo. A ideia é forçar as pessoas a refletirem sobre o hoje (como já dito aqui), e nessa eterna transição.

A transição não permite às pessoas enxergarem uma forma definida em suas vidas, assim como acontece com as metamorfoses dos animais (utilize a alegoria que preferir). Pense em um rosto desfocado que, de tantas mudanças, não tem absolutamente semblante nenhum.

A identidade de cada um é a maior prejudicada quando estamos em constante transição justamente por não poder se enxergar como realmente somos. Essa condição nos força imaginar sempre como seremos num futuro próximo ou distante. Ou pior, ficamos presos ao que já fomos.

Entendo que a evolução deve ser sempre contínua, perene e sólida. As subidas são necessárias. Mas um descanso, em determinados momentos, é essencial.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Boa, Lulu.

Nesses dias escutei uma música que não ouvia há um bom tempo, e sem querer resolvi prestar atenção na letra. E mais: pensei que, se a letra fosse escrita como um texto, e não em estrofes, daria um texto incrível.

Por isso, reproduzo aqui, em texto corrido, a música “Já É”, do Lulu Santos.

Repare em como ela fala com todo mundo. É universal, como a maioria dos assuntos tratados aqui neste blog, e tem uma profundidade simples que é muito difícil de atingir.

Por isso a música e as artes em geral têm um poder transformador muito difícil de imitar. Ela chega até o seu problema, ou até o que você sente, te pega por um laço e te leva sem que você saia do lugar.

Nesse momento, defesa não existe e você já está envolvido com a levada da arte que te fisgou.

Leia e reflita com ela. Depois note como a nossa percepção muda quando a lemos em estrofes e me diga o que achou:

“Sei lá... Tem dias que a gente olha pra si, e se pergunta se é mesmo isso aí: o que a gente achou que ia ser quando a gente crescer? E nossa história de repente ficou alguma coisa que alguém inventou...

A gente não se reconhece ali, no oposto de um déjà vu...

Sei lá... Tem tanta coisa que a gente não diz, e se pergunta se anda feliz com o rumo que a vida tomou (no trabalho e no amor). Se a gente é dono do próprio nariz, ou o espelho é que se transformou, a gente não se reconhece ali, no oposto de um vis a vis.

Por isso eu quero mais, não dá pra ser depois do que ficou pra trás na hora que já é.”

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quanto vale o seu tempo?

Albert Einstein era bom mesmo. Quando ele falou sobre relatividade, as pessoas nem imaginavam o quanto isso seria importante e o quanto isso já permeava a vida na terra. Só que essa história de relatividade atrapalhou a vida de muita gente.

Como todo mundo sabe e sente, o tempo não passa da mesma forma para as pessoas. Contudo, o tema que quero abordar aqui é um pouco mais simples: a nossa relação com o tempo dos outros.

Eu vejo que a cada dia, por culpa da "Síndrome do Umbigo", a noção de que o tempo dos outros existe vem desaparecendo. No trabalho e na vida pessoal os exemplos não param de acontecer. Você entende o que eu digo.

O problema reside na falta de respeito que é não considerar o tempo alheio. E nós só pensamos nisso quando essa falta de respeito nos atinge.

Pense naquela reunião que você organizou com muito custo, e justamente algumas pessoas-chave se atrasaram consideravelmente. Lembre da expressão dos - pontuais - presentes durante a espera e na vergonha que você passou.

Sou capaz de apostar um teco do meu dedo mindinho para dizer que os atrasados da questão não ficaram nem um pouco constrangidos com a deselegância.

De que adianta despender um enorme esforço para ser pontual, se a(s) outra(s) parte(s) não se importa(m) com isso?

Por isso, entendo que não desprezar o tempo dos outros é, no mínimo, um sinal de respeito. Nesse caso, o ditado "Quem ri por último, ri melhor" não se aplica.

Levar em conta o tempo dos outros significa aproveitar melhor a companhia, demonstrar empatia e valorizar o fato de alguém ter dado, mesmo que um pouco, o seu tempo de presente para você. Pense nisso.

Respondendo à pergunta do título deste post, o tempo de cada um tem um valor maior do que qualquer moeda que já inventaram ou que venham a criar.

Ele, o tempo, é a única moeda que não é corrente, pois quando investido, não volta mais.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Questão de prioridade

Estive pensando em como a questão "prioridade" é relativa e volátil.

Relativa por que a prioridade de cada um em qualquer aspecto de sua vida é influenciada pela doença chamada "Síndrome do Umbigo".

Ou seja, o que é prioridade para fulano pode não ser a prioridade do ciclano. Daí a dificuldade de conciliar planos, compartilhar projetos ou dividir ideias. Para que isto aconteça, é necessária uma convergência de sentido de prioridades, tornando o objetivo de todos os envolvidos em algo comum.

O que se observa é que, mesmo para duas pessoas, a convergência não é fácil de acontecer. A questão "volatilidade" entra aqui. Uma prioridade deve ser compartilhada por essas duas pessoas em ordem de importância e ao mesmo tempo.

Só que atualmente, com a velocidade dos acontecimentos, as opiniões não são lá muito sólidas, e mudam com a mesma velocidade das informações.

Imagine a seguinte situação, e veja se você já viveu algo parecido:

Um grupo de amigos se reúne em uma casa. A dúvida: pedir pizza ou esfihas? Três querem pizzas e dois, esfihas. Como a maioria vence, iniciam a ligação para fazer o pedido. Eis que, em um momento, um dos três que preferiam a pizza muda de time e diz que prefere esfiha. Está feita a bagunça. Daí pra frente, você pode imaginar quanto tempo levaram para finalizar o pedido.

A situação levanta perguntas simples:
- A prioridade do grupo era matar a fome em pouco tempo ou escolher o melhor prato?
- O que é mais importante: acabar com a fome ou vencer a discussão?

Assim, temos mais um agravante (a vaidade) para que a prioridade seja, de fato, uma prioridade para os envolvidos e não somente mais um assunto da agenda de discussões.

O medo é que, num mundo onde a reina a individualidade, as prioridades se tornem tantas que não saberemos mais reconhecer o que é realmente importante.

E, cá entre nós, o importante é ser a prioridade de outra pessoa, e não das circunstâncias. Que um dia, todos possam ter a certeza de que alguém sempre olha por você, e que esse alguém não sejam seus pais.

A sensação deve ser boa.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A Síndrome do Umbigo

Pensando em prestar um serviço público de esclarecimento, O Inconsequente publica aqui um texto que é fruto de observação do comportamento padrão das pessoas ao longo de 24 anos. Uma chamada Síndrome.

O texto a seguir foi desenvolvido com base na experiência pessoal do autor e em conjunto com a apreciação dos movimentos pessoais de seu círculo familiar e de amizades, além de constatações com o conhecimento de casos públicos (que vemos todos os dias nos meios de comunicação).

O que se pode dizer a esse respeito é que todos nós estamos passando, já passamos ou passaremos pela Síndrome do Umbigo. É um tipo de síndrome que não escolhe classe, poder econômico, gênero ou qualquer outro tipo de segmentação social.

Essa síndrome diz respeito a tudo o que envolve os nossos caprichos individuais, tornando a individualidade o ponto de partida para a criação de todos os parâmetros ou ordens de comparação. Ao ler este texto, você poderá encontrar, em algum lugar de sua mente, exemplos de pessoas que sofrem dessa síndrome. Ou, se houver algum tipo de lucidez, se enxergar nela.

No fim das contas, a grande verdade é que todo mundo se encaixa. Uns com maior identificação do que outros.

Só que a síndrome é muito nociva às relações humanas. Sim, admito que é necessário ter amor próprio, mas não se deve confundir "self-care" com mesquinhez, pobreza de espírito e egocentrismo.

Partir do princípio de que os seus gostos, vontades e percepções são maiores do que os das outras pessoas é tão repugnante que quem passa a ser visto com diferença é o dono do umbigo em questão.

E não chame de persuasivo o infeliz que sofre da Síndrome do Umbigo. Quem se utiliza de argumentos para fazer valer o seu ponto de vista está jogando dentro das regras. A síndrome se aplica àqueles que não se preocupam com a opinião de terceiros, nem com a vontade ou fatores que serão explorados nos posts seguintes.

A Síndrome do Umbigo, tal qual outros problemas, faz sofrer não somente quem é acometido por ela, mas quem está ao redor do doente. Em determinados casos, não há jogo de cintura que contorne o poder da síndrome.

Por isso, se você conhece alguém com a síndrome, ou se você é o pobre coitado que está sofrendo com a síndrome de um terceiro, tome alguma providência. Ao contrário das síndromes mais conhecidas, a Síndrome do Umbigo é reversível. Grite, converse, olhe, indique, dê dicas. Mude.

É, no mínimo justo, que alguém tente fazer algo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Me vê um manual, por favor...

Muitas vezes me pego pensando que a vida seria mais fácil se algumas coisas, situações ou acontecimentos viessem com um manual de instruções.

Pense naquele dilema infinito no seu trabalho... Ou naquelas palavras de alguém que você não soube interpretar. Agora imagine as mesmas situações com um manual à sua disposição.

Ficou mais fácil, né?

Eu sei, você está pensando: "Mas se tudo tivesse um manual, qual seria a graça da vida?".

Arrisco a dizer que, se houvesse um manual, nós perderíamos menos tempo com suposições, borboletas no estômago, achismos infundados e manteríamos a nossa atenção no que de fato importa.

Algum texto por aí diz que a felicidade está em buscá-la, ou algo que o valha. Eu discordo. Se fosse, de fato, o caminho não seria espinhoso e desleal.

Ou seja, a suposição está equivocada. Na verdade, a felicidade da proposição está em superar obstáculos. Não a vejo assim também. E nem é de felicidade que estamos falando.

A questão aqui, é no fim das contas, um pedido para que as pessoas sejam mais claras e sinceras possível, ou tanto quanto puderem ser.

Esse tipo de atitude pode, quem sabe, substituir o meu tão pedido manual.

Expressões e frases como "Eu quis dizer", ou "Ela(e) quis dizer" ou ainda "Acho que" deveriam ser substituídos por "Eu disse" "Ela(e) disse" e "Tenho certeza que".

Só assim eu vou considerar não consultar o manual. Mas, por via das dúvidas, vou deixá-lo guardado na gaveta.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Em quem confiar?

Confesso que já ouvi diversas opiniões e pontos de vista sobre confiança, mas neste espaço vou falar sobre a opinião deste Inconsequente que vos escreve.

Confiança não é um produto pronto que vem como item de série dentro das pessoas. Nem poderia. A confiança que você tem de outras pessoas não é sua. É delas. Elas é que depositaram a confiança em você.

É confuso, eu sei. Pense: você não é responsável nem pode controlar quem tem ou não a confiança que, no fim das contas, é sua. E justamente por ser só sua é que é tão difícil deixá-la nas mãos de outras pessoas. E mais: ela só funciona quando não está mais com você.

Outro ponto importante e que deve ser observado é o de que a confiança não é dada. Ela é conquistada, ou às vezes, tomada à força. Até mesmo quem testa a confiança nos outros busca medir essa conquista.

Veja: você não pegou o carro do seu pai pela primeira vez com toda a confiança dele. Mas, se voltou cedo e com o carro inteirinho e com o tanque cheio, acho que a confiança surgiu.

Obviamente, não é tão simples assim. A confiança é construída arduamente ao longo do tempo. Seguindo no exemplo, imagine que depois de sair com o carro do seu pai por 3 anos, você acaba dando PT no bólido depois de beber todas na balada. Adivinha aonde foi parar a confiança, mesmo depois de tê-la indiscriminadamente?

Claro, é você quem determina o tempo necessário e os critérios para que a confiança seja estabelecida. Contudo, são os atos da outra parte envolvida nessa conversa que determinam a construção ou não da sua confiança. Daí a "involuntariedade" dessa coisa chamada confiança.

Você pode amar uma pessoa e não confiar nela, ao passo que pode haver um desafeto justo o suficiente para desfrutar da sua confiança.

O processo de confiança é tão delicado que para descontruí-lo é muito mais fácil do que construí-lo. A proporção não é na mesma medida. Qualquer atitude besta já espanta qualquer edificação e solidez da confiança que antes existia ali.

Em contrapartida, são necessárias diversas atitudes no sentido de construir cada tijolo da confiança que, talvez, não tenha passado de um projeto.

É como se tivéssemos que construir um muro com cartas do baralho. É muito, muito difícil colocá-lo em pé e mantê-lo dessa forma, e sempre é possível aumentá-lo enquanto houver cartas. Mas basta uma brisa qualquer para destruir parte ou todo o muro.

É... no fim das contas, sábio é o mineiro, que tem fama de desconfiado e não dorme com os olhos dos outros.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Por um mundo sem você, talvez...

Talvez eu não tivesse que escrever este post agora.

Talvez eu tenha demorado pra atualizar o blog, mas talvez tenha esperado o tempo certo.

É, talvez... Você, que não passa de uma palavra, tornou-se dispensável para mim. Por sua culpa, talvez, as pessoas não têm certeza de onde ir, o que fazer e o que pensar. Inclusive eu, que sou um Inconsequente.

Por isso, peço que você fique o mais longe possível de mim e das pessoas que me cercam. Você, talvez, só causa estranheza, incerteza e desconfiança. Eu sei, talvez, você não tem culpa. Já nasceu assim.

Talvez, você seja o responsável pela maioria das atitudes das pessoas. Eu sei que elas só se movimentam quando sentem-se desconfortáveis. Você, talvez, instiga a não-acomodação alheia. Admiro isso. E só.

Talvez você nem saiba que a culpa por fim de relacionamentos, por conclusões precipitadas, por passos mal dados, por caminhos tortos e outras coisas do gênero, seja sua.

Mas talvez, por isso mesmo, eu queira você bem longe. Você é tão perigoso que não mede e não conhece, talvez, a força que tem.

Eu sei também, que não é você quem vai atrás das pessoas para inundar as suas vidas com insegurança, talvez. É o contrário que, na maioria das vezes acontece. As pessoas, ou no caso, nós, é que deixamos, ou mais, convidamos você para passar um tempo em nossas casas.

Você é como aquela mulher do golpe do baú. Chega de mansinho, vai tomando conta da nossa vida, e quando percebemos a sua presença e as suas reais intenções, já é tarde.

Mas, apesar disso, às vezes, talvez seja você que nos faz entender o real valor das coisas. Não que isso seja o correto. Até por que, mesmo quando você ensina alguma coisa, você talvez esteja atrasado, e esse entendimento já não vale de mais nada.

Percebi isso ao ler uma frase que no twitter, acabei retuitando no domingo. Ela exemplifica bem o efeito do talvez, e que, talvez, ainda não tenhamos nos dado conta:

"Se você precisou da minha ausência para saber do meu valor, é porque talvez você nunca tenha merecido a minha presença."

Por isso, e por tudo isso, talvez, desejo que um dia, quem sabe, você possa evoluir e se tornar uma certeza dessas bem grandes, que por mais avassaladoras que sejam, trazem no seu mínimo bem o máximo que o talvez pode trazer.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Eu te conheço?

Quantas pessoas podem dizer que conhecem você profundamente?
E você, conhece profundamente quantas pessoas?

Proponho aqui um breve exercício: pense nas pessoas que você julga conhecer profundamente. Conte quantas são e anote seus nomes em um papel. Agora pense em ao menos uma situação com cada uma delas em que você consiga demonstrar o porquê as conhece profundamente.

Depois, se for possível, converse sobre o que você pensou com elas. Se quiser me contar qual foi ou quais foram os resultados, vou gostar bastante.

Entendo que a maioria das pessoas que considero meus amigos não me conhecem profundamente, e eu tão pouco a eles. Isso não quer dizer que são relações superficiais.

A superficialidade é boa, e o "conhecer profundamente" nem sempre é o meu desejo com todos, nem o de todos comigo.

O meu conceito de conhecer profundamente é simples: quando você passa a pensar a mesma coisa que o outro frequentemente, você conhece profundamente. Se você já passou por isso, não precisarei explicar. Se ainda não passou, lembrará deste post quando passar.

Sinto que muita gente exerce o papel de filho, mas não conhece seus pais. Exerce o papel de namorado (a) e não conhece sua companheira (o). Exerce o papel de amigo, mas não honra esse título.

Acontece que, quando esse tipo de relação se estabelece, a responsabilidade para com o outro é maior. A ligação de características e a compatibilidade de conduta tornam as partes envolvidas muito dependentes uma da outra.

Isso faz com que a relação se torne muito intensa: a sensação de segurança, de parceria e de cumplicidade justifica toda e qualquer alegria, mesmo que barata, ao lado da pessoa que se conhece profundamente.

Contudo, o lado negativo é tão forte quanto: decepcionar ou ter uma decepção por parte de alguém que você conhece ou que te conheça tão bem é como receber uma pedrada de paralelepípedo no rosto. Daí a responsabilidade mencionada acima.

E por que isso acontece? Por que, na verdade, são poucas, ou nenhuma pessoa que mantém esse tipo de relação conosco.

Uma vez me disseram que sou o tipo de pessoa que você mal conhece e já fica amigo. Fiquei muito feliz em receber essa notícia, mas hoje tenho a noção de que conquistar a simpatia das pessoas é uma coisa. Conhecê-las, de fato, é outra.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pausa para leitura...

Faço uma breve pausa para falar um pouco a respeito dos blogs que o Inconsequente aqui lê.

O intuito é mostrar um pouco do que leio diariamente na internet, e agradecer, de certa forma, por essas pessoas dividirem um pouco de seus pensamentos e opiniões comigo.

Como são sete links que estão elencados aí ao lado, farei um post sobre cada um deles ao longo dos dias.

Vou começar com o Blog do André Kfouri.

Filho do conhecido jornalista Juca Kfouri, André consegue se desvencilhar da imagem do pai com muita personalidade e maturidade, o que fez de seu blog o meu preferido entre os esportivos.

Acompanho seu trabalho desde os tempos do Ig, quando seus textos alimentavam o Blogol. Atualmente seu blog se hospeda no Lancenet, braço digital do jornal Lance. Tem uma formatação que facilita o ritmo da leitura, tornando-a rápida e envolvente.

Outra característica que me atrai é que seus posts em geral não são nenhum tratado de Tordesilhas. São objetivos e claros, com sutilezas que vão da discrição à ironia (o que me atrai muito).

Esse tipo de texto ajuda a diminuir aquele estigma de que o homem que gosta de futebol é um ogro que toma cerveja e fala palavrão. Inclusive, entre os leitores do blog, encontram-se muitas mulheres, pelo que percebo.

André fala, na maioria das vezes, de futebol sob uma ótica muito bem ponderada, produzindo uma crítica justa e sincera, diferente do que encontramos por aí no jornalismo esportivo.

As famosas especulações de boteco não têm vez em seu blog, qualificando a informação ali  postada e conferindo mais credibilidade ao canal.

Outro ponto que me chama a atenção é que André tem, como poucos blogueiros, o hábito de responder comentários pessoalmente, proporcionando uma proximidade e uma troca que não existe em outros blogs.

Pra finalizar, não deixe de ler o perfil dele. É o que eu gostaria de dizer às pessoas daqui uns anos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Corpo fechado

Não. Não é anúncio de pai de santo, de cartomante ou de bruxaria. Vou falar sobre o princípio do corpo fechado, e não sobre os rituais que prometem isso.

Estar com o corpo fechado é não se deixar atingir por terceiros. Certa vez uma amiga e eu conversamos muito sobre isso, e foi ela quem me chamou a atenção pra esse detalhe.

Às vezes reclamamos muito de que somos o alvo, mas é difícil perceber que muitas vezes, quem corre atrás das flechas somos nós. Daí a história sobre corpo fechado.

Sob a minha ótica (e a da minha amiga), quem determina o que nos atinge e o que passa reto somos nós mesmos. E ninguém mais. Você escolhe ser atingido pela maioria das coisas que te acertam. Do mesmo modo, é você quem decide o que passa reto.

Pare pra pensar naquela pessoa que pisou em você, única e exclusivamente por que você permitiu que fosse assim. Em contrapartida, pense naquela situação extremamente adversa que nem um respingo teve. Por isso, digo: o segredo é a nossa decisão de nos deixar atingir ou não.

Calma: não sou fundamentalista em afirmar que há como fazer o controle total sobre o que nos atinge ou não. Entendo que em muitas situações, isso é inevitável. Mas é nossa opção ficar sangrando ou bater o pó.

Eu busco o meio termo. Entendo que se deixar atingir às vezes faz parte. E tem dois lados. O lado positivo é que a flecha pode ser muito boa. Pode ser muito, muito bom ser atingido. Contudo, também pode ser uma flecha grande demais para as nossas capacidades. Nesse caso, o lado bom é a cicatriz que ela causa, possibilitando algum crescimento. Mesmo que seja forçado. Mesmo que doa.

Pra finalizar, quero falar também de quem atinge. O Pequeno Príncipe disse que “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Eu completo dizendo que você também é responsável por quem ou aquilo que atinge ou destrói.

Pense em quanto você está se deixando atingir. Pense em quanto você está atingindo. Eu estou pensando, e até agora, ainda não cheguei a nenhuma conclusão.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A honestidade de relacionamento

Esse é um termo que venho usando há uns anos. Resolvi ser honesto com os meus relacionamentos e honesto com as pessoas que resolvem se relacionar comigo.

A princípio, pode parecer simples. Mas acho que tem muito mais de Inconsequente do que parece.

Ser honesto em um relacionamento é começar por você mesmo. Assumir seus sentimentos, ou a ausência deles, é uma boa maneira de começar. Entender o que passa, escutar seu coração (ou a razão) em muitos casos pode ser crucial.

A honestidade não é tão simples de ser encontrada. Por isso, escutar amigos, amigas e família pode ser um passo importante pra que você seja mais honesto com os seus sentimentos. E então, a partir daí, mais honesto com os outros que são impactados pelas suas decisões.

Mas não se engane: quem determina a sua honestidade é você. E não é necessário dizer com todas as letras e palavras o que você sente, nem tão pouco perguntar diretamente sobre seu caso (leia o post "Isso é uma indireta"). A ideia é refletir sobre, capisce?

Inclusive, demonstrar a sua decisão para outra pessoa, fazer com que esses sentimentos sejam visíveis e decifráveis também faz parte desse processo. Sejam elas decisões boas ou ruins. A longo prazo ou a curto prazo. De amor ou de aventura.

Desligar-se de um relacionamento por completo pra poder começar outro é tão honesto que deveria ser pré-requisito. É o tipo de atitude que resguarda ambas as partes. O contrário, acaba caindo no clichê que do poderia ter sido e não foi.

Na prática, isso significa se livrar de fotos de cabeceira (e não guardá-las em uma caixa pra olhar de vez em quando), apagar depoimentos e esquecer determinadas coisas. Incluir nos planos e tornar prioridade. Mais que isso: desocupar o coração para receber outra pessoa.

O último ponto que define a honestidade de relacionamento é uma atitude que os nossos bisavós já invocavam, mas que é muito difícil de realizar: se colocar no lugar do outro. Essa atitude dá uma ótima noção, mesmo que sob a ótica pessoal, de honestidade de relacionamento, de respeito, admiração e perenidade.

A honestidade de relacionamento não é imposta. É sentida, e deve ter a ingênua condição de ser exercida.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Portuñol: la aula!‏

Cuemo todos nosotros sabemos, hablar español requer, en la verdad, un poquito de treinamiento.

Pero, se usted hasta coñece la lengua portuguesa, todo o que tienes a hacer é dar una fuerçadita en el sotaque e en el diminutivos, alién de introduzir las vogais dientro de las palavritas.

Presta la tención en la frase de ejemplo: “Hoy, yo me sientei en la caderita, mirei la pelota e piensei: ¿Dios! Quien haberá de ter feito un furito en el cuero?”

Otra dica que yo puedo dar a usted és la utilización de la puntuación indicactivita de la pregunta. La junción de las teclas ‘Alt + 168’ resulta en el puento de exclamación de puenta cabeza: ¿.

Tenemos un ótimo exemplito de portuñol en la noviela de las siete: Victor Valentin, que en la verdád já fuê otra persona, que hoy já no és más. Con todo su repertório de palabras sotaqueadas, demuenstra como és possible se hacer entendier mesmo que non se saiba un nadita de español.

Por isso, mis caros, yo preparé este “post-guia práctico” del la lengua española, para que usted saiba, en el mínimo, solicitar un cachuerro quiente e una coca-cuela afuera de su país.

Un grande abracito,

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Encontrei um famoso...

Em primeiro lugar, entenda por famoso uma pessoa pública que você admira, e não ex-BBB's, ok?

É engraçado como não conseguimos prever e controlar nossas reações quando estamos diante de uma pessoa que admiramos. Já tive reações planejadas e reações completamente fora do que eu imaginava que teria.

Às vezes, quando vejo que o tal famoso está na área, já fico me perguntando:

"Será que vou até lá abordar o sujeito?"
"Cumprimento e puxo papo ou cumprimento e saio andando?"
"Será que espero ele me dar uma abertura pra fazer um comentário?"
"Será que ela tá de bom humor?"
"Será que não vou interromper um momento pessoal?"
"Será que eu vou perder essa chance?"
"Será que ela vai descobrir um talento em mim e me transformar em rico famoso?"

O fato é que algumas pessoas habitam o nosso imaginário como intocáveis, e acabam nos intimidando só com a sua presença. Mas pense pelo outro lado: será que esse monte de gente te admirando também não é motivo para se intimidar?

Por fim, outra coisa que acho que muita gente deve confundir: o fato de um famoso ter conversado com você, ter sido simpático e amigável não quer dizer que ele seja seu amigo. Já vi muita gente achando que por ter recebido um reply no twitter é parceiro de infância do transeunte formador de opinião.

Acontece que tenho a impressão de que nunca vou saber como me comportar na frente de uma pessoa dessas. E se, um dia fosse eu quem estivesse no papel do famoso, provavelmente também não saberia.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Isso me irrita.

Ultimamente venho percebendo como muitas coisas banais me irritam facilmente. E o pior: a culpa não é minha.

O simples fato de acordar com um despertador às 07h20 já é motivo pra que eu fique um pouco irritado. Enrolar um pouco e perder a hora acelera o processo de irritação. Pensar que estou acordando pra ir trabalhar me irrita mais um pouco. Levantar e lembrar que tenho que vestir a desconfortável roupa social me irrita mais ainda.

Andar 5 quarteirões pra pegar um busão lotado me irrita ao quadrado. Descobrir que o crédito do bilhete único acabou, me irrita mais um pouco. Escutar o funk do celular da preparada do lado me alivia , por que passo a me irritar só com ela e esqueço o resto por alguns momentos.

Descer do ônibus e pisar em uma poça de água, sem saber que o meu sapato tem um furo na sola me faz lembrar que o dia ainda pode ser bem mais irritante do que eu achava. E com o pé esquerdo molhado.

Chegar no trabalho e encontrar 4 e-mails da chefia com...
1. Novos projetos
2. Feedback
3. Pedido de favor pessoal
4. Comida de rabo por algo que deu errado, mas que não era culpa minha
...me irrita ao ponto de eu pensar que o Egito tá mais bacana pra morar do que São Paulo.

Almoçar e descobrir que as 3 folhas de alface do seu prato e um bife pesam o suficiente pra custar R$22 reais, me irrita o bastante pra eu pensar em virar um faquir.

Ficar até às 20h no trabalho por conta de uma cagada de outra pessoa me irrita de tal maneira que considero a possibilidade de entrar em contato com a assessoria do Osama Bin Laden pra mandar um currículo.

Voltar pra casa no busão que, agora está vazio, mas que me dá a oportunidade de pensar no dia que tive me irrita de tal maneira que imagino já ter um terreno de 500m quadrados garantidos no céu, entre os lotes de São Pedro e São Marcos.

Chegar em casa num baita calor e descobrir que a piscina está em manutenção me irrita ao ponto de imaginar que seria muito melhor que alguém não tivesse inventado o tal "lazer".

Desistir da piscina, entrar na internet e ver que sua (seu) namorada (o) ainda não teve a inteligência de apagar os recados do (da) ex do orkut e facebook me irrita de forma que considero passar um tempo no Tibet para aprender a ser monge.

Desistir da internet e ir pro sofá assistir ao jogo do seu time preferido, descobrir que vai passar o jogo do Paysandú e Itápolis me irrita o suficiente pra que eu assista a MTV.

Esquecer da hora vendo TV e descobrir que já é de madrugada, e que você vai acordar com sono no dia seguinte quando o despertador tocar me irrita ao ponto de eu escrever um texto pra colocar num blog inconsequente.

E você? O que te irrita?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Esse texto não é meu...

...mas serve pra mim, pra você e pra todo mundo. Mais uma vez, um convite à reflexão.

Por onde o recebi, a autoria é atribuída a Victor Hugo, que por sua vez, foi um inconsequente, e sendo inconsequente, tem as portas abertas neste espaço.

"Desejo primeiro, que você ame, e que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis, e que em pelo menos num deles você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos; Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante; não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais, e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer e que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste; não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom; o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o João-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal; porque assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga "Isso é meu", só para que fique bem claro quem é o dono de quem.


Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo um homem, tenha uma boa mulher, e que sendo uma mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte, e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer, não tenho nada mais a te desejar."

Vitor Hugo

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Isso é uma indireta

Acho que falta uma percepção geral das pessoas sobre as indiretas da nossa vida.

As que recebemos de outras pessoas, as que nós fazemos questão de dar, as que fingimos não perceber, as que percebemos e que, na verdade, não são...

Uma indireta pode ser um recado, uma presença, uma ausência, um olhar, uma oportunidade, um testemunho, um comentário...

Por isso, seria ótimo se existisse um senso comum sobre as indiretas. Sempre que uso uma, quero fazer valer o meu ponto de vista sem que seja necessário dizer com todas as letras o que preciso. Você também faz isso, tenho certeza.

Mais: as indiretas, pelo menos as do meu estilo, servem sempre pra alertar sobre algo que, em minha opinião, seria dispensável dizer. Ou seja, sempre as utilizo quando acredito que a pessoa para a qual enderecei a minha ação indireta já deveria ter percebido o que eu quis dizer sem a necessidade da indireta.

Um exemplo simples, fácil, bonito e elegante: acabei de fazer um favor banal pra uma pessoa. Ela não agradece. Eu solto um singelo - “de nada!!”.
Ou seja, a minha conclusão é que, se há indiretas no nosso caminho, há algo errado em nossa percepção.

Mas elas representam uma remota chance de mudança, e sempre que as uso, é nessa chance que eu penso.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O assunto é hoje.

Eu, você, nossos amigos, nossas famílias, nossos vizinhos e quem quer que seja vive todos os dias em função ou do passado ou do futuro.

Explico:
Nós nos lamentamos ou nos exultamos pelo que fizemos ou pelo que fomos no passado. Vivemos em função das nossas realizações, dos laços conquistados, dos degraus subidos. Valorizamos a nossa essência, nos orgulhamos de nossas raízes e enxergamos o mundo de acordo com a nossa experiência.

Nós também idealizamos o futuro todos os dias. Pensamos no que vamos fazer, no que vamos ser, cravamos nossas previsões sobre a nossa vida e a vida de outras pessoas. Aspiramos ao que não somos e corremos atrás daquilo que queremos fazer, de quem queremos ser.

A pergunta que eu faço é bem simples: e o que fazemos com o hoje, com o presente?

Percebi que a importância que damos ao nosso passado e ao nosso futuro muitas vezes faz com que deixemos de lado aquilo que estamos vivendo hoje.

O perigoso é talvez não percebermos que o futuro e o passado sempre existirão entre o tal "hoje". Assim, o hoje fica resignado a um tempo/espaço que não é nunca levado em consideração.

Por isso, fica aqui o apelo: vamos pensar no hoje, no agora, no presente. É ele se tornará o nosso passado. E, nesse caso, eu prefiro construir o passado a idealizar o futuro.

Cada respiração, cada sensação, cada frio na barriga, cada sorriso espontâneo, cada gargalhada deve ser sentida hoje, aqui e agora. Não quero pensar que a minha melhor risada já passou, nem que a minha maior aleria ainda não chegou.

O bom é o hoje, é o agora.

Por isso, a partir de agora, eu vou valorizar cada pedaço do meu hoje, pra que amanhã eu possa olhar pra ontem sabendo que a felicidade, na verdade, é agora.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Inconsequente

Prazer, Inconsequente.

Você já pode imaginar que, pelo nome, este espaço não vai fazer média com ninguém. Palavras não serão medidas, a "social" não será repeitada e mentiras estão fora de cogitação. A verdade é sempre mais dolorida.

Relacionamentos, esportes, polêmicas, religião serão assuntos recorrentes por aqui, e também o que mais der na telha. Afinal, o Inconsequente aqui sou eu e falo sobre o que eu quiser.

O fato é que, o conteúdo aqui postado poderá trazer (ou não) consequências pra mim, pra você ou pra outro ser qualquer. Uma inconsequência é que não vai trazer.

Você não tem a obrigação de ler, de comentar, de repercutir. Mas se o fizer, por favor, não seja um inconsequente.