segunda-feira, 13 de julho de 2015

De House of Cards a Game of Thrones, um olhar dentro de nós: uma batalha entre o bem e o mal.

Todos nós enfrentamos uma batalha da qual nem mesmo pai e mãe conhecem. Uma batalha diária entre a fina linha que nos faz ser bons our ruins. A moral e, obviamente, o bom senso, nos diz que o certo é sermos bons a todo e qualquer momento. É como se tivéssemos etiquetas de inspeção de qualidade. O conceito que carregamos de bem e mal parte do mesmo pressuposto da água e do óleo: não se misturam.

Percebo uma identificação muito grande do público com séries como House of Cards e Game of Thrones. Cético de início, ignorei várias recomendações para assistir a uma delas. Hoje, sou mais um dos viciados. Sempre que uma temporada se acaba, eu me pego pensando: porquê somos tão atraídos por estes roteiros, essas produções?

Acho que a resposta é mais óbvia do que gostaria: realidade. A forma com que os personagens são construídos e apresentados nos levam a uma identificação instantânea com um texto em que os bons não são de todo bons e os maus não são de todo ruins. Diferente do que pintam as novelas que preenchem uma programação com data de validade vencida na TV, as séries nos apresentam um cenário que encontramos todos os dias e insistimos em negar: todos nós somos bons e maus.

Do ponto de vista filosófico, só existe o bem porque o mal também existe. Sabe o que é mais contraditório? Talvez eles não sejam opostos. Talvez eles façam parte da mistura fundamental que nos forma. E (mais um) talvez isso explique nossa empatia seletiva em diversos casos, que fazem nos revoltar com questões como a da Majú Coutinho e fechar os olhos para problemas que batem à nossa porta todos os dias.

É claro que não estou dizendo que devemos ser ruin uns com os outros. Mas, utilizando a metáfora do brilhante comediante Louie CK (of course, but maybe), talvez seja mais fácil aceitar que não há apenas yin e apenas yang e, a partir daí, evoluir conscientemente. Negar a existência de nossas fraquezas é, determinantemente, enfraquecer.

Para finalizar, cito Sirius Black, personagem de Harry Potter no livro Harry Potter e a Ordem da Fênix"Todos temos tanto luz e escuridão dentro de nós. O que importa é o lado que nós escolhemos agir. Isso é o que realmente somos."

Faz sentido. :)
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sexta-feira, 3 de julho de 2015

As 10 coisas que eu aprendi (e ainda aprendo) com a minha Vó.

Ser admirável não é uma tarefa fácil. Se fizermos um exercício, poucas pessoas de nosso círculo nos vêm à mente e preenchem todos os requisitos - que provavelmente são diferentes para cada pessoa.

Quando eu penso em alguém admirável, eu penso na Vó Landica.
Vó mesmo, de "ô Vóóó..."

A Vó Landica tem 90 anos e uma sabedoria infinita. Não é aquela sabedoria professoral, com conselhos prontos e frases iniciadas por "no meu tempo".
É uma sabedoria simples, limpa e até mesmo inocente.

A jornada entre minha casa e o trabalho (êê São Paulo) dura em média uma hora e meia, todos os dias.
E, durante este tempo, cheguei a esta lista:

As 10 coisas que aprendi (e ainda aprendo) com a minha Vó:


1. Não corte o barato dos outros



Em um dado momento, meu Vô queria sair de São Paulo e ir morar em um sítio. Minha Vó não tinha a menor vontade, mas nem por isso deixou de acompanhá-lo nas visitas ao interior até que ele, eventualmente, desistisse da ideia.


2. Exercite a sua mente



Já perdi a conta de quantos livrinhos de palavras cruzadas ela já completou. Exercitar a mente nos mantém mais interessantes - que não é lá novidade, mas é pouco praticado.
Ela sempre tem uma curiosidade para contar, fruto das suas peregrinações pelas páginas das cruzadinhas.


3. Não guarde tudo pra você



"Então peida!" - É o que eu escuto quando alguma ligação de telemarketing cai lá em casa. Pode parecer uma fórmula pronta, mas realmente não faz bem guardar tudo.
É bom escoar a água de vez em quando para não transbordar tudo de uma vez.


4. Seja um pouco reservado...



Ela é desconfiada. Não sai de "tere-tê-tê" facil com qualquer pessoa.


5. ... mas seja aberto com as pessoas próximas


Os braços, ouvidos e ombros da Vó Landica estão sempre disponíveis para os que são próximos.


6. Ligue para quem você ama



Ligue. Ligue mesmo. Não é ligar de prestar atenção. É pegar o telefone e discar.
- Tudo bem aí, vó? Aconteceu alguma coisa?
- Oi. Não, não aconteceu nada não. Só estou ligando pra ver se está tudo bem.



7. Entenda os outros, mas não tente mudá-los


A Amélia era uma amiga da minha avó. Talvez ela mereça um post só sobre ela. A Amélia falava pelos cotovelos. Muito. Muito mesmo. MESMO. Acredite.
A minha Vó ficava, muitas vezes, contrariada, para ser delicado.
Principalmente ao telefone, quando a Amélia ligava e falava por ininterruptos 45 minutos.
- Mas vó, por que você não fala pra ela parar?
- Porque ela é minha amiga. E é assim que ela é.


8. Dê gorjeta



Na época em que os Bingos eram legais no Brasil, minha vó vivia contando vantagem. Não por ganhar no bingo, mas por receber ótimo tratamento.
"Sempre que eu chego lá, eles sempre me dão um leite com chocolate como cortesia. Sabe por quê? Porque eu dou uma gorjetinha sempre que posso".
Bingo!


9. É OK ter as suas manias



As almofadas devem ficar no lugar certo. O horário de tomar a sopa são seis da tarde. Um copo de vinho sempre antes do almoço. A luz do banheiro deve ficar acesa durante a noite. E não há nada de errado nisso.


10. Ser gentil é de graça



A gentileza está nas sutilezas. "ô Beto, guardei um biscoitinho pra você aqui, tá?".
Um sorriso para todo bom dia. Ouvir antes de emitir uma opinião pasteurizada. Aconselhar de coração. Saber silenciar quando necessário. Estar dispónível. Saber dividir.


Agora me diz: a Vó Landica é ou não é incrível? ♥
Fica a proposta para a reflexão: o que você tem aprendido com os mais velhos?
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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"Senhor, o que vai querer?" - Me vê uma porção de oportunidade, amigo.

A revista Você SA subliteratura popular de desenvolvimento pessoal está cheia de fórmulas de pseudo-estudiosos que bradam aos quatro ventos milhares de receitas para o sucesso profissional. Nos ensinam que devemos abraçar o mundo, mas a realidade é bem diferente. Uma das receitas mais utilizadas para atrair leitores desesperados ou desatentos, ou ainda para que palestrantes cobrem aos tubos pela apresentação de uma hora é o famoso planejamento de carreira.

Os gurus dos negócios e recursos humanos que me desculpem, mas o planejamento de carreira tão postulado como vital para o sucesso não passa de uma história mal contada para vender livros.

Obviamente, é necessário gastar um considerável tempo pensando em aonde se quer estar em um determinado tempo, traçar um plano para se ter um norte, evitando se perder no caminho. Aliás, quem já não perdeu a conta (eu já) de quantas vezes viu uma menção ao clichê de Alice no Pais das Maravilhas para ilustrar o assunto? A ideia é sempre a mesma: traçar um plano de carreira claro que seja dividido em pequenos objetivos para se atingir o trabalho dos sonhos. O que muitos se esquecem de mencionar é que existe um fator imponderável e que quase sempre rabisca todos os planos feitos previamente. Um fator chamado oportunidade.

Tao subjetiva quanto possa ser, a oportunidade é a diferença entre uma carreira no campo de direito na Nova Zelândia ou no ramo de construção em Angola. Ou as duas coisas! Ou nenhuma delas... Quantas pessoas você conhece que vislumbravam uma carreira com rumos completamente diferentes daquela que de fato percorrem?

Sejamos francos: a carreira nada mais é do que um conjunto de fatores incontroláveis que nos levam para este ou aquele caminho. Uma indicação de um amigo de infância, um recrutador que gostou do seu jeito desajeitado, uma frase cheia de efeito que desagradou na entrevista e te custou aquele trabalho incrível. O desenvolvimento profissional de cada um está, definitivamente, condicionado às oportunidades que serão dadas por, em geral, total desconhecidos. Ou ainda, por estar no lugar certo e na hora certa. Por  uma aplicação feita na internet. Essa é a grande verdade: as oportunidades estão absolutamente fora do nosso controle!

É muito curioso observar profissionais bem sucedidos creditarem o sucesso de suas carreiras à capacidade que tiveram de buscar seus sonhos (que lindo, não é?). Talvez se esqueçam de mencionar que, provavelmente durante a escalada profissional, contaram com oportunidades inesperadas que serviram como catalisador em suas carreiras. O gerente que se aposentou e te indicou para o seu lugar, a empresa que foi comprada, o recrutador que conheceu no bar. Como criar este tipo de oportunidade? Impossível.

Por outro lado, o que está sob o poder de cada um é analisar as oportunidades que aparecem e aproveitá-las. Ou não. Portanto, caros gurus e ávidos leitores da Você SA subliteratura de negócios: desistam da ideia de criar fórmulas mirabolantes e receitas infalíveis para vender revistas/palestras e iludir pobres coitados (como já aconteceu comigo) de que é possível ser o senhor do seu próprio destino profissional.

Procurar uma oportunidade não significa encontrar o que se espera. Às vezes, encontramos algo melhor ou pior. Cabe a nós decidir quais oportunidades utilizar e quais deixar passar. Isto também se aplica à vida pessoal, mas é assunto para um outro post.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A beleza da rotina

O conceito da vida perfeita e de realização plena geralmente está ligado à liberdade de ir e vir, e entre o ir e vir, ser capaz de fazer o que bem entender: dormir até mais tarde, ler um livro, andar sem rumo pela cidade. Comer sem culpa aquele prato de comida ou gastar o seu tempo naquela procrastinagem criativa.

Talvez não seja por aí. Tempo livre é, na verdade, um fardo pesadíssimo para se carregar, e para estar estar apto a aproveitar o seu tempo livre é necessário muita maturidade. Ou rotina.

A experiência de ter muito tempo livre para fazer o que bem entender daquilo que é considerado o ativo mais valioso de nossas vidas pode ser frustrante. Todos os planos feitos enquanto o tempo não estava disponível provavelmente cairão por terra quando o peso do tempo livre se fizer presente. Afinal, liberdade demais pode ser mais perigoso do que se imagina.

Há uma crendice com a qual eu sou obrigado a concordar. Algo como "Peça um favor a quem é ocupado. Ele(a) estará apto a lidar com o problema e te ajudará dentro do prazo necessário". É verdade. Quem tem muito tempo de sobra, geralmente não tem tempo pra nada. Contraditório, mas verdadeiro.

É nessa hora que a beleza da rotina deve ser apreciada. "Mas que diabos de rotina que não me deixa viver!". Discordo. É a rotina, a bendita rotina que nos permite aproveitar o tempo livre. Ouso: é a rotina que nos faz desfrutar dos pequenos prazeres da vida, como uma manhã de domingo embaixo das cobertas, um barzinho com os amigos no final de um dia cheio ou, como diria Machado de Assis, na voz de Brás Cubas, tirar as botas apertadas ao chegar em casa. Vale ainda citar o ditado "cabeça vazia é oficina do diabo". Vai ver que é mesmo.

O tempo livre transforma os pequenos prazeres em torturas mentais. Cada minuto a mais na cama é um minuto desperdiçado, não aproveitado. A tarde de papo para o ar torna-se um peso. O passeio no parque, trivial. É entender que "quem mora na praia não vai à praia".

A rotina, portanto, nos permite desfrutar de pequenos prazeres que nem sempre são visíveis aos olhos de quem tem todo o tempo do mundo. O sabor da recompensa de quem segue uma rotina é mais doce.

Um brinde à beleza da rotina, que faz o papel da bota apertada nossa de cada dia.


"Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro." 
do livro Memórias Póstimas de Brás Cubas

sábado, 9 de março de 2013

Garçom: me vê mais pão e mais circo, por favor.


“Bilhões de dólares foram gastos em estádios e outras obras, mas nós permanecemos em barracos sem energia. Eles pediram para a gente “sentir a Copa” [expressão usada no slogan oficial do evento], mas nós não sentimos nada além da dor da pobreza piorada pela dor da repressão. O dinheiro que deveria ser gasto urbanizando as comunidades mais pobres foi desperdiçado. A Copa do Mundo vai terminar no domingo e nós ainda seremos pobres.”

Essa foi a fala de um jovem de Johannesburgo durante a Copa do Mundo de 2010, em uma reprodução de uma reportagem de Renada Neder já publicada neste mesmo blog. Reflete o sentimento de muitos sul-africanos em relação ao evento. E até agora não tenho motivos para acreditar que em nosso tão amado - e judiado - Brasil será diferente.

Afinal, devemos é ficar orgulhosos de trazer uma copa do mundo e olimpíadas, satisfeitos com o pão e circo.

Vamos fazer uma festa inigualável! Vamos nos fazer conhecidos no mundo todo por sediar festas e competições para todo mundo ver como somos alegres, extrovertidos e receptivos.

Pra quê se preocupar com os problemas agora? Isso fica pra depois, não é?

Mas no "depois" só não vale reclamar quando a infraestrutura deixar a desejar. Quando o transporte público não funcionar. Quando o sistema de ensino não for o ideal ou, ainda, lamentar as mortes nos milhares de -miseráveis- hospitais públicos espalhados pelo Brasil. Mas isso, vamos deixar para depois, não é mesmo? Agora vamos "curtir" os nossos 15 minutos de fama.

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sexta-feira, 1 de março de 2013

Uma vida reticente...


Muitos defendem a ideia de que a vida é feita de fases e deve ser superada a cada obstáculo, sem a audácia de olhar para trás. Afinal, "quem vive de passado é museu".

Discordo. A vida é feita de reticências, não de que pontos finais. A continuidade, a relação entre os acontecimentos, as revoluções de cada dia, os adventos inesperados... Tudo isso é parte fundamental de uma história única. A sua, a minha história. A do vizinho, ou de quem quer que seja.

Não obstante, o que somos e o que pensamos hoje é fruto de uma série de improváveis acontecimentos que, de tão únicos, formaram um indivíduo capaz de se diferenciar dos demais, mesmo vivendo em um mundo recheado de similaridades nos comportamentos, atitudes e opiniões. Mas não há nada tão diverso em nosso mundo quanto nós mesmos...

Aquele atraso de cinco minutos, aquela saideira, a caminhada de um quarteirão a mais... O presente inesperado, o relacionamento inacabado, a frase não dita. Uma vida não é igual à outra. Umas mais, outras menos emocionantes, é verdade...

Talvez não haja evolução humana suficiente que possa entender o motivo pelo qual todos os acontecimentos de nossa vida estejam relacionados e - talvez - tenham conspirado para forjar cada um de nós. Mas o que é fácil entender é que a natureza nos ensina que as reticências são as maiores responsáveis pela vida do que os pontos finais. Ou melhor, ...

Não é necessário um grande exercício intelectual para concordar. Há evidências de reticências em toda parte: O DNA transmitido por gerações e gerações... A constante evolução das espécies... A renovação dos ecossistemas... Os livros e legados que a humanidade insiste em deixar para trás... Tudo em nosso mundo é moldado de modo que a continuidade seja uma constante.

Por isso não há sentido em fechar portas, quebrar laços e esquecer o passado. Em todas as esferas da vida, há de se cultivar, aprimorar, evoluir. Não é preciso muito esforço. Já nascemos com o legado de dar continuidade à civilização, à família, às artes...

Há, contudo, tempo para honrar aquilo que nos faz seres únicos no meio de milhões, bilhões de similares. Valorize suas crenças. Transmita seu aprendizado, aprecie a sua história e deixe o seu legado. Por favor, não encerre sua vida. Seja reticente...
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domingo, 21 de outubro de 2012

A angústia de viver tudo nos fazendo viver tudo. Pela metade...


Vivemos como se o atraso fosse uma condição estabelecida no momento em que os olhos se abrem toda manhã. O amanhã é um tempo que começou há uma semana. Hoje já está acontecendo há quinze dias. No ócio, a eterna sensação de desperdício.

O senso de urgência se torna o combustível da afobação. Afobados, por todos os lados, em todas as línguas, de todas as cores, vivendo como se não houvesse amanhã. E da afobação à intolerância, um respiro. É festa? Não há álcool suficiente para quem não pode se dar ao luxo de não gostar de um programa. Há de gostar. Há de ser bom. A frustração é sinônimo de perda de tempo, e não de aprendizado.

O sentimento é que esse comportamento é uma obrigação. Não está certo se não sugarmos até a  última gota de cada dia. Há sempre alguém nos cobrando intensidade. A namorada, o chefe, a TV, a família, os vizinhos. Nós mesmos. O senso comum.

Por isso, sempre tentamos viver tudo de qualquer experiência pela qual passamos. É como se estivéssemos a todo momento naqueles jogos de guerra em que temos que desbravar um mapa e, se não o fizermos, perderemos algo extremamente importante. A sensação de incompleto nos persegue de tal maneira que não há permissão para gastar um minuto a mais naquilo que se gosta, em prol da busca de algo que seja ainda melhor. Mas que, na maioria das vezes, não vem.

Impensável a leviandade de deixar algo para trás. É uma cegueira coletiva que faz com que a busca da felicidade seja eterna. Afinal, com este pensamento, a felicidade estará sempre no passado.

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terça-feira, 9 de outubro de 2012

What is the most astounding fact we can share about the universe?

Refletir sobre o universo, os planetas, a humanidade, de onde viemos e para onde vamos é algo que faço com muita frequência enquanto sozinho. São devaneios recorrentes. Cada dia tenho uma não-conclusão diferente sobre tudo isso e, quem sabe um dia, consigo transferir para o papel essas não-conclusões.

Por enquanto, prefiro postar o vídeo abaixo que, além de ser brilhante, permite um sem número de devaneios e teorias a partir dele. É curtinho. Vale a pena.

Mas antes, um trecho que me deixou algumas horas refletindo.

"Perhaps more important than those facts is that the universe is in us... When I reflect on that fact, I look up many people feel small because they're small and the universe is big, but I feel big... Because my atoms came from those stars..."


Clique aqui se quiser ver o vídeo em português.

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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A política da opção

Época de eleição. Festa da democracia brasileira. Um verdadeiro exemplo para o mundo. "Representantes" do povo clamam por votos para, nos próximos quatro anos, colocar em prática projetos sociais revolucionários que irão melhorar a vida de 80% da população nas cidades brasileiras. Por isso, pedi como presente de aniversário de 16 anos o título de eleitor, orgulhoso por fazer parte de uma pequena parcela da juventude que poderia ser considerada politizada. Meus argumentos a favor ou contra os candidatos podiam derrubar diversas opiniões dos amigos e parentes mais próximos.

Nove anos se passaram. De politizado, a autoclassificação passou para enojado. O interesse pela política já não é tanto. A vontade de acompanhar os mandatos e o congresso não passa de superficial. Muitos são os motivos, mas o principal foi perceber o circo que a política sempre foi e que a visão de um adolescente idealista impedia enxergar. Afinal, de fato, o Brasil não é um país sério. Explico.


Não há como entender como uma pessoa que pretende sentar na cadeira como representante legítimo do povo consegue se considerar digno ao se utilizar de jingles publicitários na campanha. Qual é a seriedade nisso? Não é difícil ver muitos candidatos orgulhosos ao ver circular na cidade carros com seus "geniais" jingles, perturbando a tranquilidade dos cidadãos. Qual o mérito, meu senhor, ao copiar uma música de gosto duvidoso e obrigar o eleitorado a ouvir incessantemente a mesma música das oito da manhã às oito da noite? Portanto, me sinto livre para concluir que o candidato que se utiliza desse subterfúgio para tentar se eleger não tem capacidade de, ao menos, divulgar seus projetos, ideias e ideais para aqueles que podem o colocar no poder.


Estamos falando de conduzir o futuro de uma sociedade à modernidade, trazendo melhoras na qualidade de vida e benefícios que proporcionarão um crescimento seguro de nossas crianças, comida na mesa das famílias e condições de ascensão social, com perspectivas de vida melhor. Não é uma tarefa fácil. Muito menos para qualquer um. Contudo, a esmagadora maioria dos candidatos são pessoas que, ao invés de trabalhar no sentido de buscar estes benefícios, enxergam no cargo público um atalho para enriquecer. Afinal, está claro que quatro anos no poder são mais do que suficientes para mudar a vida de uma família. Salários exorbitantes, benefícios infindáveis, caixa 2 para todos os lados... Uma vez eleito, basta nadar junto à correnteza. Já o resto são, em geral, idealistas compondo as câmaras que não têm força para mudar nada no sistema. Afinal, capitão Nascimento lutando e expondo o sistema, por enquanto, só no filme.


Como se já não bastasse o interesse obscuro dos candidatos às cadeiras, ainda temos que aturar o total despreparo de pessoas que se julgam prontas para revolucionar a gestão pública no país. Infelizmente, por aqui, somos obrigados a sofrer na mão daqueles que não têm a menor condição de dirigir uma cidade, um estado ou uma nação. Não há experiência, não há formação, não há bagagem. Desta forma, fomos nos acostumando a depositar a nossa confiança no candidato de mais carisma, já que, em geral, ninguém tem condições ideais de assumir tantas responsabilidades e conduzir mudanças significativas para o bem da população. Neste caso, a ação dos eleitores de nada é válida. Primeiro, pelo ciclo de alternância no poder que dificulta um pleito justo e, segundo, pelo fato daqueles que têm competência (e idoneidade) para fazer a diferença na gestão pública preferem, legitimamente, utilizar seus conhecimentos e competência para dar lucro às empresas.


É neste ponto em que as coisas se complicam. Os partidos, quando não conseguem se manter por longos anos no poder, parecem dançar uma brincadeira de roda na alternância do poder, com acordos mais do que improváveis para não perder o seu filão. Rivais políticos se unem de uma hora para outra como se, ao tocar dos sinos, passassem a compartilhar as mesmas ideias e valores. Minha cidade natal, neste ano, é um exemplo disso. O candidato a prefeito da situação é o rival que fazia parte da chapa de oposição (que incomodou muito) há quatro anos. Interessante como, pelo poder, as coisas se arranjam com enorme facilidade. Interessante? Ah, desculpe, a palavra é triste.


Claro, não podemos também culpar somente os candidatos despreparados e de conduta duvidosa que tentam mudar de vida por meio da vida pública. Afinal, vivemos em país que proporciona este tipo de situação. Uma situação inegavelmente estabelecida, mas que não precisamos considerar como cultural. Por fim, ainda que muito decepcionado com tudo isso, confesso ter esperanças de um futuro melhor


Mas como bom brasileiro, não mexo um dedo para mudar essa realidade.

quarta-feira, 7 de março de 2012

"Eu perdôo mas não esqueço"

Essa frase ficou martelando na minha mente por meses. Ouvi de bicão em uma conversa alheia, enquanto estacionava o carro na garagem. Fiquei pensando sobre o assunto, se concordava com a máxima ou se a desprezava. Afinal, perdoar é esquecer?

Optei pelo desprezo logo de início. Como seria possível perdoar alguém por algo que tenha feito sem esquecer completamente o que desencadeou a necessidade do perdão? Não me parece lógico. Afinal, o perdão tem a ver com confiança. Como confiar novamente, perdoar alguém, tendo na memória a cena que trouxe à tona todas as perguntas sobre a idoneidade e a validade de perdoar?

A dialética grita, acenando que, se você não é capaz de esquecer, não é capaz de perdoar. Seja lá o que for: o não recebido, o maltrato sofrido, a má educação tolerada, a agressão suportada.

Contudo, depois da fase fundamentalista sobre o tema, também cheguei à conclusão que perdoar sem esquecer é possível. Veja o recente caso ocorrido na cidade de Cunha (matéria aqui e vídeo aqui).  Como esquecer um acontecimento dessa proporção? Impossível. Mas, pelo depoimento do Sr. José Benedito de Oliveira, é possível perdoar sem esquecer. Contudo é necessário um tanto de evolução pessoal para conseguir tal feito.

Ainda assim, insisto que, por mais que seja difícil de esquecer determinadas coisas, o perdão completo (se é que isso existe) só se dá quando a lembrança indesejável já não existe mais. Afinal, a natureza humana está pronta para a qualquer momento resgatar o acontecido e utilizar contra quem realizou o ato.

Ou seja, acredito que é dever daquele que diz ter perdoado, mesmo que não tenha esquecido, agir de modo digno, nunca mais tocando no assunto. O perdão é a alforria do culpado e a altivez do ferido.

Por isso considero aqueles que conseguem perdoar verdadeiramente e, se possível, esquecer, seres evoluídos. Quem sabe, um dia, chegamos lá.