quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A política da opção

Época de eleição. Festa da democracia brasileira. Um verdadeiro exemplo para o mundo. "Representantes" do povo clamam por votos para, nos próximos quatro anos, colocar em prática projetos sociais revolucionários que irão melhorar a vida de 80% da população nas cidades brasileiras. Por isso, pedi como presente de aniversário de 16 anos o título de eleitor, orgulhoso por fazer parte de uma pequena parcela da juventude que poderia ser considerada politizada. Meus argumentos a favor ou contra os candidatos podiam derrubar diversas opiniões dos amigos e parentes mais próximos.

Nove anos se passaram. De politizado, a autoclassificação passou para enojado. O interesse pela política já não é tanto. A vontade de acompanhar os mandatos e o congresso não passa de superficial. Muitos são os motivos, mas o principal foi perceber o circo que a política sempre foi e que a visão de um adolescente idealista impedia enxergar. Afinal, de fato, o Brasil não é um país sério. Explico.


Não há como entender como uma pessoa que pretende sentar na cadeira como representante legítimo do povo consegue se considerar digno ao se utilizar de jingles publicitários na campanha. Qual é a seriedade nisso? Não é difícil ver muitos candidatos orgulhosos ao ver circular na cidade carros com seus "geniais" jingles, perturbando a tranquilidade dos cidadãos. Qual o mérito, meu senhor, ao copiar uma música de gosto duvidoso e obrigar o eleitorado a ouvir incessantemente a mesma música das oito da manhã às oito da noite? Portanto, me sinto livre para concluir que o candidato que se utiliza desse subterfúgio para tentar se eleger não tem capacidade de, ao menos, divulgar seus projetos, ideias e ideais para aqueles que podem o colocar no poder.


Estamos falando de conduzir o futuro de uma sociedade à modernidade, trazendo melhoras na qualidade de vida e benefícios que proporcionarão um crescimento seguro de nossas crianças, comida na mesa das famílias e condições de ascensão social, com perspectivas de vida melhor. Não é uma tarefa fácil. Muito menos para qualquer um. Contudo, a esmagadora maioria dos candidatos são pessoas que, ao invés de trabalhar no sentido de buscar estes benefícios, enxergam no cargo público um atalho para enriquecer. Afinal, está claro que quatro anos no poder são mais do que suficientes para mudar a vida de uma família. Salários exorbitantes, benefícios infindáveis, caixa 2 para todos os lados... Uma vez eleito, basta nadar junto à correnteza. Já o resto são, em geral, idealistas compondo as câmaras que não têm força para mudar nada no sistema. Afinal, capitão Nascimento lutando e expondo o sistema, por enquanto, só no filme.


Como se já não bastasse o interesse obscuro dos candidatos às cadeiras, ainda temos que aturar o total despreparo de pessoas que se julgam prontas para revolucionar a gestão pública no país. Infelizmente, por aqui, somos obrigados a sofrer na mão daqueles que não têm a menor condição de dirigir uma cidade, um estado ou uma nação. Não há experiência, não há formação, não há bagagem. Desta forma, fomos nos acostumando a depositar a nossa confiança no candidato de mais carisma, já que, em geral, ninguém tem condições ideais de assumir tantas responsabilidades e conduzir mudanças significativas para o bem da população. Neste caso, a ação dos eleitores de nada é válida. Primeiro, pelo ciclo de alternância no poder que dificulta um pleito justo e, segundo, pelo fato daqueles que têm competência (e idoneidade) para fazer a diferença na gestão pública preferem, legitimamente, utilizar seus conhecimentos e competência para dar lucro às empresas.


É neste ponto em que as coisas se complicam. Os partidos, quando não conseguem se manter por longos anos no poder, parecem dançar uma brincadeira de roda na alternância do poder, com acordos mais do que improváveis para não perder o seu filão. Rivais políticos se unem de uma hora para outra como se, ao tocar dos sinos, passassem a compartilhar as mesmas ideias e valores. Minha cidade natal, neste ano, é um exemplo disso. O candidato a prefeito da situação é o rival que fazia parte da chapa de oposição (que incomodou muito) há quatro anos. Interessante como, pelo poder, as coisas se arranjam com enorme facilidade. Interessante? Ah, desculpe, a palavra é triste.


Claro, não podemos também culpar somente os candidatos despreparados e de conduta duvidosa que tentam mudar de vida por meio da vida pública. Afinal, vivemos em país que proporciona este tipo de situação. Uma situação inegavelmente estabelecida, mas que não precisamos considerar como cultural. Por fim, ainda que muito decepcionado com tudo isso, confesso ter esperanças de um futuro melhor


Mas como bom brasileiro, não mexo um dedo para mudar essa realidade.

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