domingo, 22 de janeiro de 2012

Chocante simplicidade

É curioso observar que quanto mais o tempo passa, mais complexas as coisas e suas composições ficam.  A tecnologia e os sentimentos, representando o antagonismo, dão a impressão de que não há limites para a ciência do "complicômetro".

Atualmente nada mais choca. Aliás, na arte, por exemplo, o último que fez isso foi Marcel Duchamp e o seu famoso mictório. A partir de lá, estamos em uma busca incessante por choques e mais choques de diferentes naturezas e culturas, que foram se sucedendo de modo a criar um efeito em cadeia, fazendo com que hoje não nos choquemos mais.

Os artistas, sinto dizer, pouco ou nada chocam. Claro, estamos falando daqueles cujo propósito é chocar. A nudez já não é um escândalo. Pinturas, tampouco. Músicas delatoras, já não fazem mais sucesso. Nem mesmo aquelas cujo mote principal é sexo e palavrão.

Voltando ao assunto, hoje o calo das pessoas com está muito grande. O choque com atitudes, discursos, e as artes em geral, já entrou em uma preocupante e irreparável banalização. Isso impede que assuntos verdadeiramente importantes (e chocantes) como a política e seus desdobramentos, por exemplo, sejam ignorados. Os choques que sofremos foram tantos e tão frenéticos que nos tornou passivos, conformados com situações que deveriam ser inaceitáveis.

Sabendo que tudo não é nada mais do que um ciclo, atualmente o que choca são as coisas verdadeiramente simples. Vemos casamentos rebuscados, festas estonteantes, comidas cheias de frufrus, computadores com games incríveis. Mas o que lembramos é daquele namorico de portão, da reunião não planejada com os amigos, do arroz com feijão da mãe e a emoção do esconde-esconde. Tudo, além de não depender da tecnologia, era de graça.

Por isso, faço mea-culpa aqui e retifico o dito acima: não é a simplicidade que choca.

A simplicidade encanta.

No fim, fica o apelo: vamos parar de tentar chocar. O choque já nos foi muito útil em outros tempos. Em meio a um turbilhão de emoções, informações e inovações, o que faz a diferença é a simplicidade genuína e sincera, que não precisa de rococós para acontecer e encantar.

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